Você reclama de que na sua relação?

Você reclama de que na sua relação?

Imagine um casal que se conheceu ainda sem saber que planos ocorreriam no futuro. É muito provável que certas características os tenham atraído instantaneamente e outras foram atraindo aos poucos.

As nossas atrações estão direcionadas pela nossa percepção sobre o mundo. Quando falo sobre percepção, falo aqui sobre parâmetros e formas que você considera esperadas. Se você vem de uma família que fala muito alto e por isso se acostumou a falar mais alto, é possível que ao encontrar alguém que fale tão alto quanto, você não estranhe a situação. O contrário disso vai fazer você perceber (sentir) que sua parceria fala (mais) baixo. E sempre temos que indicar que há possibilidade de que sua parceria realmente fale mais baixo que outras pessoas.

Então nossa percepção sobre as coisas está vinculada à nossa própria forma, ou como gosto de dizer, nosso próprio mundo.

De maneira geral, procuramos pessoas com coisas em comum sejam hobbies, valores, sonhos. Essa busca nos coloca diante de um outro parecido. Precisamos disso para dar certa “liga”, nos mantermos juntos, mas por outro lado é difícil conviver com alguém tão igual. Queremos alguma novidade deste outro. Então ser muito igual não parece uma opção tão boa no fim das contas.

Desse jeito, a procura por coisas diferentes para admirar aparece de forma muito necessária. É este outro que abre nosso horizonte. É possível agora admirar as rosas que não nos tínhamos dado conta, ler livros de autores que nem sabíamos que existiam, começar hobbies por influência deste outro e amar estes hobbies até mais que este outro ama.

Então buscar alguém totalmente diferente se torna uma opção viável. Afinal, as pessoas se complementam como se fossem duas metades.

A ideia parece boa, mas ela causa muito mais ansiedade, irritação e raiva. É difícil ter “liga” com alguém que fala de basquete enquanto você quer ver aquele filme francês. Ou mesmo escolher o prato do jantar quando a dieta de um é totalmente vegana e o outro come bife com batata frita.

Então precisamos aqui de alguém que dê “liga” e que também seja diferente para ser admirado.

Encontramos este alguém. Pela atração, admiramos coisas que não encontramos em nós. Até o dia em que esta admiração vira crítica. Afinal, esse outro é muito diferente de mim.

Neste momento, características que atraíram no início se tornam as mesmas que separam o casal. A atração pelo jeito do outro totalmente livre se transforma em raiva pela falta de organização, o amor pelo outro planejado e organizado se transforma em irritação porque o outro é muito “quadrado”. São as mesmas características. Foi o seu olhar que mudou.

E aqui um ponto é fundamental. Você se lembra do que falei sobre a percepção? Cada um tem seu mundo e percebe o mundo a partir do seu. Você fala português e reconhece pessoas que falam português. É provável que se você ouvir alguém falar alguma língua que você não conheça, você não entenda e nem saiba dizer a diferença entre essa língua e outras.

Então nós vemos aquilo que conhecemos e principalmente que há traços em nós. Se você chama este outro de desorganizado, teimoso e outras coisas, reconhece neste outro coisas que estão em você e que é difícil de lidar com elas. Provavelmente estão em você de forma não tão desenvolvida e abre espaço para a crítica ao outro. Afinal, é mais fácil criticar o outro que criticar a si mesmo.

Veja que a atração inicial por este outro pode se transformar em raiva, irritação, mágoa, ódio porque o outro é algo diferente de você. Mas provavelmente se tratam das mesmas características com o bônus de serem também formas críticas como você olha para si mesmo.

Por isso, para conviver bem com o outro, você precisa estar realmente conectado com quem você é, conhecer mais de você mesmo, se interessar por quem você é para que assim você possa identificar quem você é com este outro que entra em sua  vida. Permita-se sentir o que este outro gera em você, pois é a partir disso que sua relação pode crescer e não numa intensa disputa que talvez você ainda não tenha travado com você mesmo.